O ano era 1996. Eu tinha na época 10 anos, começando a desenhar minhas primeiras tirinhas, quando caiu na minha mão um exemplar do caderno Ilustrada do jornal Folha de São Paulo, ainda preto-e-branco. Lá encontrei uma tira nada convencional. Uma mulher com os seios a mostra se oferecendo para todo mundo na firma. Era a Dona Marta, de um cartunista chamado Glauco. Procurei outra tiras do artista nos dias seguintes e encontrei o Geraldão, com o bilau de fora, cantando a própria mãe, no maior complexo de Édipo das histórias em quadrinhos, viajando em ácido e etc. Até então, só tinha tido contato com quadrinhos da Mônica e da Disney, foi quando percebi que não precisaria ter um traço "belo" para ser um bom cartunista, e que podia sim, falar palavrões, desenhar pessoas nuas, enfim, aquelas tiras tiveram um enorme impacto sobre mim.
Maior o impacto ainda quando eu entrei no site da Folha Online, logo de manhã no meu serviço, e dou de cara com a notícia da trágica morte do Glauco e seu filho. Não dá pra descrever a dor. Fiquei mal o dia todo. Apesar do sol, ele parecia cada vez mais cinza. Ainda não estou bem. Nunca conheci o cara pessoalmente, mas parece que tinhamos um relacionamento muito intimo. Ele não merecia uma morte com essa, não mesmo. Resta a saudade, as lágrimas, e a esperança de que a Justiça seja feita.
Descansem em paz, Glauquito e Raoni.